terça-feira, 15 de junho de 2010

AM 24.05.2010 - "Porto Solidário" - O Lugar da Pessoa Humana na Cidade do Porto - por Gustavo Pimenta.

A pessoa humana, para além de ser eminentemente gregária por instinto, é-o também por necessidade e conveniência.
A cidade, desde os seus primórdios até hoje, virá daí, será fruto de o ser humano precisar de interagir, de se complementar nos e com os outros.
E é, sem dúvida, uma das conformações – das invenções, se se preferir – do espírito humano que melhor o representa e traduz, na sua multiplicidade complexa.
Todavia, a humanidade, revelando uma surpreendente incapacidade de programar e integrar harmoniosamente o resultado da prodigiosa evolução técnica e tecnológica de que é capaz nos vários domínios da sua actividade, tem vindo a transformar a cidade num lugar onde a felicidade é muitas vezes improvável.
De facto, nem sempre os poderes que, instalados, gozam da possibilidade de a moldar, têm a clarividência necessária para lhe traçar o destino mais conveniente.
O Porto, esta espantosa cidade que tantos de nós tanto amam, corre hoje sérios riscos de prosseguir um processo de degradação e declínio de que levará anos a recuperar.
E corre-o, seguramente, também porque, ou sobretudo porque, o poder autárquico se tem vindo a manifestar incapaz de identificar correctamente as ameaças que sobre ela impedem e, natural e consequentemente, de promover as medidas necessárias à sua revitalização.
O Porto tem tudo para ser uma cidade de eleição: a sua implantação geográfica, a sua topografia singular, os pergaminhos do seu passado, a excelência de tantas das suas instituições científicas, culturais, académicas, sociais, empresariais e desportivas e, muito especialmente, as suas gentes, com o seu marcado carácter e a sua determinação, não consentem a menor desculpa para o retrato confrangedor que o Diagnóstico Social lhe faz.
O Porto consegue o singular feito de se encontrar hoje, qualquer que seja o ângulo de apreciação, abaixo da média nacional em todos os direitos humanos básicos que foram objecto de apreciação pela Universidade Católica. 
É caso para nos sentirmos, pelo menos, envergonhados.
Mas não, nunca, desalentados.
A nossa posição é, assim, a de procurarmos contribuir para que o executivo municipal reflicta sobre as consequências do seu sistemático autismo político, que o leva a recusar ver que a sua gestão tem vindo a empobrecer a cidade em quase todos os domínios e a ignorar quaisquer sugestões ou propostas que venham das forças da oposição, independentemente da sua real valia: faz lembrar o velho brocardo anarquista “há governo? Sou contra!” substituindo-o pela máxima “vem da oposição, voto contra”.
O Diagnóstico Social que apreciámos na sessão da Assembleia Municipal de 24 de Maio – um importante trabalho de auscultação no terreno e de compilação de informação existente, embora pouco ambicioso nas oportunidades de intervenção que preconiza – não consente mais qualquer dilação ou álibi.
A hora é de agir, tanto mais quanto o país atravessa um dos seus momentos menos auspiciosos.
É, também por isso, chocante que a coligação PSD/CDS que governa a Câmara tenha recusado as recomendações apresentadas pelo PS, tanto mais que se não poupou ao desplante de as considerar meritórias!
A inércia face ao retrato que se nos apresenta será politicamente criminosa.
Continuaremos a não pactuar com ela.

Gustavo Pimenta

Nota à Edição: este é um texto escrito para este blogue que resume e eleva, na voz do líder do agrupamento municipal do PS, Gustavo Pimenta, as posições humanas, cívicas e políticas que norteam o trabalho do dito agrupamento na representação inequívoca dos interesses da Cidade; não foi apresentado à Assembleia de 24 de Maio p.p., antes nasce da avaliação dos trabalhos decorridos no âmbito da mesma e dos profundos problemas sobre a qual esta se debruçou.